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Depois da aula sobre a estética da criação verbal, fui à biblioteca,
precisava de alguns livros para o meu trabalho de conclusão de curso. Lá, após
realizar o levantamento bibliográfico indicado pela professora, notei, no final
do corredor, um garoto indeciso entre as chamadas de seu “Whats App” e a
imponente estante.
Achei bonito o sorriso daquele
menino, que mostrava os dentes com certa moderação e encantamento. Contra a luz
longa e amarelada, ele era coroado por uma atmosfera angelical, meio infantil,
quase erótica. Fiquei tanto tempo perdido em meu alumbramento que, por algum
momento, esqueci dos livros de que eu necessitava.
Excitado e confuso, meus olhos pareciam não me obedecer: anjo, luz,
livros, luz anjo. Aquela linda cabeça que pendia discreta ao ler versos de
Leminski me tirava do prumo, de certo ficaria lindo com uma guirlanda em flores
e os “seus olhos de ressaca”. O que dizer sobre o meu pau duro e latente?
Lembraria, à noite, do corpo esguio, do “All
Star” vermelho, ao derramar meu leite grosso e quente sobre as minhas mãos
decididas e o meu fremido descontrolado. Com borboletas no estômago, esqueceria
do meu projeto de pesquisa, ao ser assaltado pela imagem do sorriso; do olhar
que não se perdeu em mim.
Saí de lá reflexivo
acerca dos arroubos afetivos que eu andava sentindo naquele semestre. Não
saberei, nem com muita análise, quais eram os motivadores de tal comportamento.
Só sei que os meus pecados ortodoxos não se alinhavam ao recente falecimento da
vó Augusta.
Permaneci
dentro de minha dimensão, não deixando que nada de diferente aparentasse. Dei respostas
esperadas à sociedade e escutei os monólogos simulados dos meus amigos.
Já em casa, a
sala sozinha, as panelas sujas, os planos de aula incompletos e a cena
vivenciada, à tarde. Nada de diferente.
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